domingo, 1 de abril de 2012

O tempo de espera para a adoção: uma necessidade

 * Lourdes Missio 
Artigo publicado dia 31/03/201 em http://www.progresso.com.br/opiniao/lourdes-missio-o-tempo-de-espera-para-a-adocao-uma-necessidade

 A adoção é uma medida irrevogável e, por isso, deve-se recorrer quando esgotados os recursos de manutenção da criança ou adolescente na família natural. A adoção visa em primeiro lugar garantir o bem-estar do pequeno (criança e adolescente) e seu direito fundamental ao convívio familiar. A adoção não se constitui em um processo simples, exige muitos cuidados, tanto da parte do Estado como da família/pessoa adotante.
No decorrer dos anos, o Estado assumiu a responsabilidade de promover o encontro de interesses de uns e de outros; dos lares que querem filhos e dos filhos que querem pais. Temos que lembrar que a criança/adolescente também adota e, por isso, aqueles que cuidam do processo de adoção tem que zelar para que os candidatos à adoção e a criança se inscrevam mutuamente em um projeto em que cada um é tanto portado como portador.
Neste ínterim, é comum que os pretendentes a adotar queixam-se de que o processo judicial é lento, a fila e o tempo de espera são longos. Este fato acontece por alguns motivos: Por um lado há a precaução, o zelo que a Lei exige do Estado para se efetivar a adoção, cuidados estes necessários a fim de verificar como vivem os pretendentes, onde vivem e se há alguma intenção diferente da revelada. A criança/adolescente a ser adotada precisa ser recebida em um ambiente afetivo e acolhedor. Isto tudo para ter certeza de que estas encontrem um espaço que seja favorável ao seu desenvolvimento. Este processo é realizado no período em que a família/ou o pretendente a adotar se torna habilitada à adoção.
Por outro lado, o tempo de espera também é necessário para que o pretendente a adotar (pessoa/família) se prepare para receber o futuro filho. Tanto na adoção como na gravidez biológica é importante saber que nem sempre o filho desejado é o filho real. Em ambas situações nem tudo é tão poético quanto parece. Nem sempre essa adequação de desejos resulta em um final esperado, um final feliz. Por isso na adoção há a necessidade de preparação de quem adota. Preparar quer dizer formar, esclarecer, propiciar desenvolvimento, maturação e mudança. Essa preparação leva algum tempo, embora nunca finalize. Apenas participar de palestras não basta. É necessário também participar de vivências, sensibilizações, reflexões para que haja amadurecimento.
Na adoção é necessário saber lidar com o preconceito, sim, porque ele ainda existe tanto na adoção de crianças pequenas como na adoção tardia. Quando se adota uma criança mais velha ou uma criança de cor, é preciso saber administrar essa identidade. O adotante também deve ser preparado para revelar a adoção.
O tempo de espera também está relacionado ao perfil desejado em que os pretendentes à adoção estipulam no processo de habilitação. Quanto mais exigências em relação a ele, maior a demora. Muitos preferem bebês de até dois anos, saudáveis, de pele clara e olhos azuis, o que não condiz com a realidade das crianças que estão em condições de adoção. Estas, na maioria das vezes são crianças maiores, com idade entre três a 11 anos ou mais, em parte são de pele escura, portadores de necessidades especiais ou grupos de irmãos que estão à espera por alguém que lhes dê aconchego, carinho, afeto, um lar e amor.
As restrições de raça, idade e condições de saúde são as principais razões para que ainda seja mais longo o tempo de espera na fila de pais e mães que optaram pela adoção. A maioria dos menores que vivem em instituições de acolhimento tem perfil diferente daquele que é procurado pelos pretendentes. Temos que lembrar que as restrições são impostas pelos próprios pretendentes à adoção, o que pode prolongar ainda mais a espera pela criança. Vale salientar que essas “escolhas” devem ser feitas com o coração e com a razão também.
Nos grupos de Apoio à Adoção é comum ver pais que entram esperando um bebê recém-nascido, de determinada etnia e sexo, porém, após algum tempo de troca de experiências, acabam flexibilizando suas expectativas e vendo que também são capazes de amar crianças maiores, de outra etnia ou de sexo oposto ao que pretendiam inicialmente. Assim, o período de espera na adoção acaba sendo um tempo de reflexão sobre a disponibilidade afetiva de cada um.
A adoção é uma forma de não discriminação, de aceitação plena, de amor incondicional que precisa ser construída com base no amor, no carinho, no cuidado e no respeito. É um ato que envolve o saber dar e receber amor. Tanto na adoção de recém-nascidos como na adoção tardia o importante é fortalecer o vínculo afetivo com a criança/adolescente para que esta esteja muito forte e consciente de que é amada.
Em Dourados, existe o Grupo de Apoio à Adoção - GAAD Acolher - como um espaço onde você pode buscar apoio, participar de reflexões, sensibilizações e vivências relacionadas à adoção. Este grupo se reúne mensalmente, aos sábados pela manhã junto ao Sindicato dos Bancários. Informações podem ser obtidas pelo e-mail gaadacolher@hotmail.com ou pelo blog do grupo www.gaadacolher.blogspot.com.br.

* Sou mãe adotiva, membro do GAAD Acolher e esperei durante três anos e quatro meses para a chegada de um lindo menino

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