*Irení Aparecida Moreira Brito
Artigo
publicado dia 17/05/2012 em http://www.douradosagora.com.br/variedades/opiniao/adocao-entre-o-desejo-e-as-duvidas-ireni-aparecida-moreira-brito.
O desejo
de amar é inerente ao ser humano. Quando nascemos, já nos apegamos aos nossos
pais, avós, irmãos, tios, enfim àqueles que estiverem ao nosso redor. Queremos
e precisamos dar e receber afetos. Precisamos amar e ser amados. A busca por
amor e afeição é uma característica inerente a todo ser humano. Característica
essa que se revela com maior intensidade e pureza, na maternidade ou
paternidade. Ser pai ou mãe é amar com pureza de espírito, é buscar uma forma
de fazer com que todo o amor que se guarda no coração seja compartilhado com
alguém.
A busca
por esse compartilhar o amor, pela maternidade ou paternidade, pode ser por
meio biológico ou pela adoção. No primeiro caso, parece ser mais simples, mais
“natural”, pois não precisamos enfrentar a sociedade e todos os preconceitos,
que são naturais, é o senso comum. Na segunda situação, já é diferente. Quando
escolhemos ser pais ou mães por meio da adoção, precisamos dar muitas
explicações. Primeiro à família, que diz logo: “é melhor um que seja do nosso sangue,
pelo menos já sabemos maios ou menos o que vai ser”. Depois vem aquele amigo ou
amiga e diz: “você é louca, melhor ter um filho seu”. A maioria das pessoas
acha que um filho adotivo não é “nosso” é dos outros. Como esses, ocorrem
muitos outros comentários que são frutos, na maioria dos casos, do
desconhecimento e do preconceito que está cristalizado em nossa sociedade.
A
problemática que surge disso tudo é que os pais e mães adotivos são parte dessa
sociedade. Por isso, suas ideias e pensamentos são atravessados, influenciados
pelo pensamento social. Assim, na imaginação desses futuros pais, surgem, no
momento da primeira adoção, muitas dúvidas e medos. O coração não tem dúvida,
está disposto a compartilhar e amar. Mas a mente, o lado racional, diz: “como
será? Quem virá? Qual será a personalidade? Será que vamos dar conta? Será que
vai ter o meu jeito de agir? Será que vai assimilar os meus valores e
princípios? Será que vai dar trabalho? Será que a genética determina tudo?
Essas
dúvidas surgem para a maioria dos candidatos à adoção. Elas controlam o nosso
pensamento, por um bom tempo, até a tomada de decisão. Não adianta querermos
criar uma “cortina de fumaça” e dizer que tudo nesse processo é maravilhoso, é
cor-de-rosa. De acordo com Soulé, 1982, “a adoção não pode ser compreendida com
pressa. Sua compreensão se dá ao longo do caminho que se percorre até a
realização do sonho, da maternidade ou paternidade”.
Portanto,
precisamos ter muita calma, muita paciência. Precisamos primeiro abrir nossos
corações para o entendimento e a reflexão. Pois, a grande questão do ato de
adoção é que os candidatos a pais adotivos, muitas vezes, têm todos os
preconceitos da sociedade da qual é fruto. Isso não significa que não tenha
amor, que não esteja ansioso, desejoso de ser pai ou mãe, significa que se
encontra numa “escuridão”, com dúvidas e com medo.
Os
preconceitos vão ficando para trás quando visitamos os lares e nos encontramos
com aquelas crianças que nos abraçam no momento da chegada, que, enquanto
estamos lá, ficam do nosso lado querendo carinho e afeto, esperando ansiosas,
por uma família. É certo que elas estão carentes de afeto, mas nos cobrem de
carinhos que acabam, naquele momento, com os nossos medos e dúvidas.
É
importante percebermos que esse medo também faz parte da vida daqueles que se
tornam pais biológicos pela primeira vez. A gravidez biológica também é cercada
de dúvidas. A diferença é que ela não enfrenta o preconceito social, como
ocorre nos casos de adoção. Ter um filho biológico também requer entendimento
e, em alguns casos, até aceitação. Sendo assim, só começamos a compreender o
ato da adoção, quando começamos nossa “gravidez imaginária”. A partir daí,
começamos criar, no sonho, as condições imaginárias de qualquer gravidez.
Imaginamos como serão o bebê, suas feições, sua personalidade. Nesse momento,
desejamos e nos fascinamos com ele ou ela.
Portanto,
já o amamos quando começamos a “mentalizar” o seu quartinho, os seus
brinquedos, seus primeiros passos(caso seja bebê). Com esses pensamentos, o
medo desaparece e as dúvidas se dissipam. Dessa forma, a condição essencial de
um candidato ou candidata a adoção é o desejo (de maternidade e de paternidade)
e a disponibilidade para amar.
Em
Dourados existe o Grupo de Apoio à Adoção - GAAD Acolher - como um espaço onde
você pode buscar apoio, participar de reflexões, sensibilizações e vivências
relacionadas à adoção. Este grupo se reúne mensalmente, aos sábados pela manhã,
na sede do Sindicato dos Bancários. Informações podem ser obtidas pelo e-mail gaadacolher@hotmail.com
ou pelo blog do grupo www.gaadacolher.blogspot.com.br.
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