A
ADOÇÃO TARDIA: novas oportunidades para se viver
Tereza Bressan de Souza*
João Carlos de
Souza**
A adoção sempre foi um assunto instigante, mas ao mesmo tempo polêmico,
e, quando se trata de adoção tardia, além das preocupações inerentes a esse
processo, não raro vem carregado de preconceitos.
A população brasileira, uma parte significativa pelo que se sabe, carrega
concepções e medos em relação a adoção de crianças mais velhas, ou seja, acima
de seis, sete anos. Podemos citar o
receio de que estas crianças carreguem maus hábitos e vícios difíceis de serem
revertidos, quase que um delinqüente em potencial, e por isso, o medo de não
dar conta de educá-las. Isso tudo se agrava ainda mais quando o medo passa pela
suposição de que a criança e/ou adolescente possa se revoltar ao ser
apresentada a uma nova família, onde se defronta com novos costumes e
diferentes maneiras de se portar e conviver.
Este e outros medos passam pela mente dos pretendentes à adoção.
Eventualmente estes riscos podem acontecer tanto com crianças adotadas com
menos idade quanto as de mais idade, ou mesmo com os filhos biológicos. A
criança é uma criança!
A adoção tardia requer antes de
tudo o entendimento do que seja educar um filho que traz uma história muitas
vezes cruel. Crianças que vivenciaram o abandono e a violência tendem a ter
baixa estima. É necessário ter consciência, neste caso, de que para educar há
que se percorrer, refazer o caminho. Em grande parte isso significará elevar a auto-estima
dessa criança, alicerce da autoconfiança e das ações ao longo da vida. Os pais
podem ajudar intensamente nesse processo, com gestos, ações e comportamentos
bem concretos: demonstrar amor e afeição; elogiar as crianças em situações em
que realizaram tarefas combinadas; abraçar e falar com freqüência que as amam,
que são importantes; estabelecer limites, oferecer segurança, dentre outras atitudes.
É um processo longo de reeducação,
no qual a criança terá a oportunidade de alterar suas percepções e enfrentar o desafio
de mudar costumes e maneiras de se portar, muitas vezes, inadequados ao convívio
social e assimilar novos valores. Tal situação também requer aprendizado da
mãe, do pai, dos irmãos ou responsáveis, que por sua vez precisam estar abertos
para rever concepções, ter paciência em relação às expectativas de mudanças,
pois as novas realidades exigem tempo para serem assimiladas. É um período de
ajuste de toda a família. Com isso, não se pode confundir a aceitação e
inserção completa da criança na nova família com o desejo e tentativa de apagar
suas origens, sua história de vida com sério risco de perder sua identidade.
Não podemos esquecer que o desejo
mais forte de qualquer criança que esteja em uma casa de Acolhimento é ter uma
Família, um Lar, um pai e uma mãe que a proteja, que cuide e transmita
segurança, carinho, afeto, amor. Supõe-se que as pessoas que adotam crianças
maiores sejam mais altruístas, maduras e estáveis emocionalmente, além de
portarem um alto grau de sensibilidade com as questões sociais, sobretudo com a
situação de abandono de muitas crianças. Comportamento esse que não se limita a
ganhos e interesses próprios, mas volta-se para as necessidades do outro como
mobilizadora da adoção.
Muitas pessoas associam a adoção como sendo uma solução para a
infertilidade de casais. Por este motivo, a busca e interesse por crianças na
faixa etária entre os 3 a 5 anos continua sendo
maior. Mas, o que fazer com as crianças acima desta faixa etária e
adolescentes, que na sua maioria lotam as Casas de Acolhimento? Seu destino
será permanecer sem uma família, sem ter o direito de poder ter um pai e uma
mãe?
No nosso caso, temos uma filha
biológica, hoje casada, e três filhos(as) adotivos(as). Um menino, hoje rapaz e
pai de família, que adotamos quando tinha quase 8 anos. Duas meninas recentemente
adotadas, há um ano e quatro meses, então com 8,5 e 9,5 anos. Todos estes
filhos nos trouxeram e continuam nos trazendo muitas alegrias.
* Coordenadora do Grupo de Apoio à Adoção – GAAD
** Membro do GAAD e Diretor da FCH/ UFGD
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