segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

A ADOÇÃO TARDIA: novas oportunidades para se viver
                                                                                          Tereza Bressan de Souza*
                                                                                                João Carlos de Souza**

A adoção sempre foi um assunto instigante, mas ao mesmo tempo polêmico, e, quando se trata de adoção tardia, além das preocupações inerentes a esse processo, não raro vem carregado de preconceitos.
A população brasileira, uma parte significativa pelo que se sabe, carrega concepções e medos em relação a adoção de crianças mais velhas, ou seja, acima de seis, sete anos.  Podemos citar o receio de que estas crianças carreguem maus hábitos e vícios difíceis de serem revertidos, quase que um delinqüente em potencial, e por isso, o medo de não dar conta de educá-las. Isso tudo se agrava ainda mais quando o medo passa pela suposição de que a criança e/ou adolescente possa se revoltar ao ser apresentada a uma nova família, onde se defronta com novos costumes e diferentes maneiras de se portar e conviver.  
Este e outros medos passam pela mente dos pretendentes à adoção. Eventualmente estes riscos podem acontecer tanto com crianças adotadas com menos idade quanto as de mais idade, ou mesmo com os filhos biológicos. A criança é uma criança!
              A adoção tardia requer antes de tudo o entendimento do que seja educar um filho que traz uma história muitas vezes cruel. Crianças que vivenciaram o abandono e a violência tendem a ter baixa estima. É necessário ter consciência, neste caso, de que para educar há que se percorrer, refazer o caminho. Em grande parte isso significará elevar a auto-estima dessa criança, alicerce da autoconfiança e das ações ao longo da vida. Os pais podem ajudar intensamente nesse processo, com gestos, ações e comportamentos bem concretos: demonstrar amor e afeição; elogiar as crianças em situações em que realizaram tarefas combinadas; abraçar e falar com freqüência que as amam, que são importantes; estabelecer limites, oferecer segurança, dentre outras atitudes.
            É um processo longo de reeducação, no qual a criança terá a oportunidade de  alterar suas percepções e enfrentar o desafio de mudar costumes e maneiras de se portar, muitas vezes, inadequados ao convívio social e assimilar novos valores. Tal situação também requer aprendizado da mãe, do pai, dos irmãos ou responsáveis, que por sua vez precisam estar abertos para rever concepções, ter paciência em relação às expectativas de mudanças, pois as novas realidades exigem tempo para serem assimiladas. É um período de ajuste de toda a família. Com isso, não se pode confundir a aceitação e inserção completa da criança na nova família com o desejo e tentativa de apagar suas origens, sua história de vida com sério risco de perder sua identidade.
              Não podemos esquecer que o desejo mais forte de qualquer criança que esteja em uma casa de Acolhimento é ter uma Família, um Lar, um pai e uma mãe que a proteja, que cuide e transmita segurança, carinho, afeto, amor. Supõe-se que as pessoas que adotam crianças maiores sejam mais altruístas, maduras e estáveis emocionalmente, além de portarem um alto grau de sensibilidade com as questões sociais, sobretudo com a situação de abandono de muitas crianças. Comportamento esse que não se limita a ganhos e interesses próprios, mas volta-se para as necessidades do outro como mobilizadora da adoção.
Muitas pessoas associam a adoção como sendo uma solução para a infertilidade de casais. Por este motivo, a busca e interesse por crianças na faixa etária entre os  3 a 5 anos continua sendo maior. Mas, o que fazer com as crianças acima desta faixa etária e adolescentes, que na sua maioria lotam as Casas de Acolhimento? Seu destino será permanecer sem uma família, sem ter o direito de poder ter um pai e uma mãe?
              No nosso caso, temos uma filha biológica, hoje casada, e três filhos(as) adotivos(as). Um menino, hoje rapaz e pai de família, que adotamos quando tinha  quase 8 anos. Duas meninas recentemente adotadas, há um ano e quatro meses, então com 8,5 e 9,5 anos. Todos estes filhos nos trouxeram e continuam nos trazendo muitas alegrias.
* Coordenadora do Grupo de Apoio à Adoção – GAAD
** Membro do GAAD e Diretor da FCH/ UFGD

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